Atleta do Búzios denuncia dirigente do Goytacaz por ato de racismo durante partida
De acordo com testemunhas, a partida se encaminhava para o fim do primeiro tempo quando o time visitante ganhou o direito de cobrar um escanteio. Quando Carlos André foi realizar a cobrança, houve uma discussão entre ele e o dirigente.
O atacante acusou Rodolfo de tê-lo chamado de “macaco” e de “crioulo”. Quando o juiz encerrou o primeiro tempo, Carlos se dirigiu à um policial militar que teria o orientado a tomar um banho e registrar a ocorrência.
“Assim que acabou o primeiro tempo, falei com o quarto árbitro, que disse que se eu fizesse o registro naquele momento, a partida seria encerrada. Preferi então terminar o jogo e, assim que saí de campo, fui para a delegacia”, disse.
Em vídeo divulgado em um perfil da rede social do clube, o jogador reafirmou as acusações: “A gente que é da cor, sabe como se sente”, disse o atleta. “Quero deixar bem claro não é viável uma pessoa ir para um estádio, e chamar alguém de negro, de crioulo e de macaco”.
O diretor de futebol do Goytacaz Futebol Clube, Humberto Junior, negou a acusação. Segundo ele, o que houve foi “um desentendimento entre o atleta e o dirigente”.
“Eu estava próximo ao presidente do conselho e não o vi cometendo nenhuma injúria. O bate boca aconteceu porque o atleta não se conformou em desperdiçar a cobrança do escanteio”, disse.
Humberto acrescentou que a acusação não faria sentido porque Rodolfo “teria visto o jogo da arquibancada, acompanhado de três homens negros”. Ainda de acordo com ele, o dirigente, “entendendo a gravidade da acusação, se apresentou, espontaneamente, à delegacia para prestar depoimento”.
O atleta negou que o dirigente estivesse acompanhado dos homens, e que somente após a confusão, Rodolfo teria os procurado para “ficar por perto”.
No boletim de ocorrência, uma testemunha identificada como José Carlos Nunes Junior afirmou que, após a cobrança de um escanteio, o dirigente teria dito ao jogador a frase “Valeu, negão”, mas não teria visto ele dirigir as ofensas acusadas por Carlos André. Segundo ele, a frase teria sido dita “em tom de ironia”.
O dirigente se defendeu das acusações e afirmou: “sou descendente de africanos, e tenho familiares na minha árvore genealógica de cútis preta, logo, percebo alguma tentativa de manipulação com algum objetivo ainda desconhecido, mas, como o crime de injúria racial é inafiançável e saí pela porta da frente da delegacia de polícia, creio que a autoridade policial entendeu não se tratar de crime cometido da minha parte, obviamente, que da parte do jogador, será provado o crime de calúnia contra minha pessoa”.
Rodolfo afirmou que o jogador teria se dirigido a ele com gestos obscenos e xingando “a memória da falecida mãe”. De acordo com ele, o atleta estaria “orientado a tirar proveito financeiro por alguém que não está satisfeito com o árduo trabalho de recuperação que estamos realizando a frente da centenária instituição Goytacaz Futebol Clube”.
A assessoria de Polícia Militar informou, por meio de nota, que, “neste domingo (9), policiais do 8º BPM (Campos dos Goytacazes) conduziram dois homens à 134ª DP (Campos dos Goytacazes), após uma confusão durante uma partida de futebol no Estádio do Goytacaz. Os esclarecimentos sobre o fato foram relatados à autoridade delegada”.
A Polícia Civil informou que “o caso ainda está em apuração”.
Procurada, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) informou que “no jogo Goytacaz 3 x 0 Búzios, um atleta do time buziano procurou o delegado e o árbitro da partida para relatar ofensa racial. Acionado, o policiamento encaminhou o caso à Delegacia Policial, onde foi realizado um boletim de ocorrência. A FERJ encaminhará a súmula do árbitro para o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ), responsável pela apuração e aplicação das sanções cabíveis”.
Fonte: O DIA (Matéria com vídeo)